19 dezembro 2012


Escrever é um desabafo, é como se você estivesse conversando com o seu melhor amigo (a), quando ele sabe de tudo, tudo o que você está sentindo, sobre cada pessoa ao seu redor. E não é só uma opinião alheia, ele entende quando seu coração dispara, as pernas tremem e aos mãos soam ao ver alguém. Mas por fora nada está acontecendo.
Escrever seria falar aos quatro ventos o que você não diz para ninguém, é liberar tudo o que está preso dentro de você e se sentir aliviado mesmo depois de três palavras, ou linhas infinitas rodeadas no mesmo assunto.
Conversar consigo mesmo e descobrir que entramos em conflito com as nossas próprias opiniões, e aí então ver que pra toda regra existe uma excessão, aquela que não te faz ter noites e noites sem dormir, que te acorda com uma sms bonitinha no meio da madrugada, e que te faz ficar com raiva ás vezes.
Entender que um dia alguém vai aparecer e te fazer ir contra seus próprios princípios !

By Viviane Baeta

10 dezembro 2012


Eu vivo me perguntando quem é você que me roubou as palavras e ganhou as minhas linhas. Nunca obtenho respostas, não sei o que em ti é real e o que é fruto da minha imaginação. Não me faz bem sonhar contigo e acordar no frio dessa cidade sabendo que você não chegará e a minha casa seguirá grande demais. Por mais que encurtem as distâncias, que facilitem o amor e me empurrem até você, ainda nos fa
ltará muito. Faltará você deixar de ser pergunta e virar resposta. Eu não preciso de amor fácil, até ontem eu nem sabia que precisava de amor, mas se é difícil que ele se faz, que seja. Eu preciso apenas que você me olhe, que me note. O amor também cansa de se esconder no meu peito ou nos meus olhos forçados. Não é a vida a vilã, somos apenas nós, imaturos, mal-criados, desalmados: nós, que não sabemos amar. Mas te amo, mesmo incompetente e rezando para que o meu coração acalme e eu possa dormir sem o vazio ocupando espaços. Eu te amo mesmo na falta de nós.

07 dezembro 2012

Reply


Imagine que tenho uma mala muito pesada com um milhão de moedas de ouro. As alças ficam penduradas no meu pescoço, me forçando a cabeça pra baixo, retesando os músculos do olhar pra frente.
Vez ou outra, uma pessoa da rua passa e tenta me roubar. Mas, por mais que esteja tão pesado e doendo e estragando a minha coluna, luto até a morte pra proteger a tal da mala. Automaticamente me atiro contra o chão, como se protegesse um filho das balas. São terríveis esses quilos centralizados no ponto mais fraco do meu corpo, mas pra violência a gente não entrega nem os fardos.
Dai, também, às vezes, uma pessoa da rua se oferece pra carregar a mala pra mim. Ou pra guardar em sua casa. Ou pra dividir o peso ao estilo “uma mão em cada alça”. Também não consigo entregar meu arqueamento e tamanho para essas pessoas. O amor gentil nunca me conquistou. Gentileza é coisa pra quem nunca será íntimo. Solidariedade é coisa pra campanha política. Felicidade é pra quem se conforma em ficar num lugar só porque está bom.
Mas muito de vez em quando, como aconteceu com a gente, aparece uma pessoa que não me pede nada e pra quem eu tenho vontade de entregar cada moeda da minha mala com um milhão de moedas de ouro. Tome, leve, gaste, use, encha a sua banheira com elas e depois me mande uma foto.
Eu sou uma mendiga ao contrario. Eu ando pelo mundo implorando pra que alguém aceite a minha riqueza. Fico sentada no chão, tocando meu instrumento, com um chapéu imenso e lotado. E a plaquinha “por favor, não me ajude”. Muitas pessoas passam, mas pra poucas me levanto.
Posso ficar horas tentando te explicar. Você tem um resto perdido e solitário de sobrancelha ao lado da sobrancelha esquerda. Você tem pequenos buracos entre os dentes de baixo. Você molha o lábio com a língua ainda mais seca que seus lábios, quando está nervoso. Você joga seu maxilar inferior pra frente quando a risada é de deboche. Você joga o seu maxilar superior pra frente quando a risada é de timidez.
Você atravessou a rua com as mãos congeladas dentro do bolso. Você pede perdão pela sua parte playboy com a doçura e a sinceridade de um poeta descalço. Você me convida pra almoçar no restaurante onde terminamos e, porque sabe ser piadista exatamente do jeito que combina comigo, explica detalhadamente onde é o lugar como se eu não lembrasse dele todos os dias.
Eu vejo a palavra “reply” no meu celular e, só porque tem a letra “y”, a letra mais forte do seu sobrenome, sinto de leve um chutinho atrás dos meus joelhos. Eu poderia ficar horas te explicando por que eu acho que é amor.
Você outro dia fez o exercício contrário. Ficou tentando me explicar por que não é amor. Falou da minha amargura verborrágica, das minhas fases com remédios que causam anorgasmia, do quanto odiava quando eu tentava extrair mais e mais e mais do seu peito protegido pelas várias jaquetinhas modernas que parecem paletozinhos mas têm zíper e, por fim, disse que apesar de não simpatizar com elas, prefere as meninas que te fazem sentir de férias em um spa relaxante.
Não são por essas coisas que não se ama. Não são por essas coisas que se ama. Essas são apenas as coisas sobre as quais conseguimos falar na nossa ânsia de ocupar a cabeça enquanto nos encaramos um pouco assustados.
A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve.
Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar e, mesmo você não tendo aceitado, eu fui.
Eu te vi atravessando a rua com as mãos frias dentro da “jaquetinha paletó que tem zíper” e fui lançada sem tempo de pena. Você não sabe, você não vê, você não quer, você não se importa. Mas, no último segundo do sinal fechado, eu abri a janela do meu carro e joguei a mala com milhões de moedas de ouro.
A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida caótica pela chuva e pela véspera do feriado. Os famintos, os entediados, os pobre-ninguéns, os todos-os-outros, se engalfinharam pra tirar proveito do amor que, lançado ao homem sem mãos aparentes, agora ficou esparramado, exposto e restante no asfalto, como um resto de feira reluzente.
*tatibernardi

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Eu não tenho medo de voar. Eu tenho medo de estar fechada num lugar e de ter escolhido estar fechada nesse lugar. Tenho medo porque meus pés sentem o chão mas ele é falso. Meus pés sempre me obrigam a sentir a verdade e eu sou obrigada a dizer a eles que aquele chão não dura e nem é de terra. Tenho medo do absurdo que é sorrir e dizer "guaraná normal e sem gelo, grata" enquanto se quer dizer "que merda é essa de estar voando se não sou a porra dum passarinho?". Tenho medo porque quando acabar estarei em outro lugar. Agora, se eu pudesse escolher o maior de todos os medos, eu diria "a chance disso cair agora é muito pequena". Estou sobrevoando, sem inteligência, a água profunda que aprendi a chamar de casa mas também de intervalo. A verdadeira angústia de voar é estar acima da nossa vida. Voar é tornar nossa rotina banal. Estou voando há dias, de primeira classe, com vista para o desenho de um país que não sei o nome. Ao lado de uma pessoa que, até que enfim, não é mais uma barrinha de cereal.

tati bernardi*

νiνiαηє

A vida é um sonho de valsa que pede bis !

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